domingo, 25 de janeiro de 2009

Tô fu: tô fóbico

Chega um dia em que sua adolescência passa, mas a timidez permanece e piora. Você se vê ainda jovem, você se descobre homem, e daí? Sem força e coragem, a vida de ninguém avança. De repente, você hoje está pasmo na antessala da própria velhice. À espera, que lembra uma espreita. Agora, talvez sempre, o mundo o apavora. Como último recurso, você tenta ter consciência disso com certa graça. Mira-se no espelho, segura as lágrimas e pensa alto – tô fu: tô fóbico. Paralisado e perplexo, você raciocina rápido e com espanto: com o tempo, sem que você observasse, aquela antiga e conhecida timidez da juventude se tornou um pânico insensato, porém já bastante adulto. Mais vigoroso e violento que as crenças, os amores e as amizades que você gostaria de ter, ainda que fosse apenas um sonho. Na impossibilidade de ser transparente, você se volta para obscuridade e crê, qual o quê, que seja possível se emaranhar com escuridões e sombras. Lá de dentro do seu vazio estranho e tenebroso, a sensação demente brama que você é a pessoa mais sozinha da face da Terra. Em vez de tristeza, isso chega a ser um conforto. Talvez o único que você seja capaz de apreciar, se não recorrer à terapia e drogas lícitas e controladas. Dormir, por um segundo ou meses, não adianta. Fé, somente, não basta, e no seu caso nem existe. Contar apenas com sua força de vontade, se ainda houvesse em você alguma, não é o suficiente. Você se agarra ao médico, ao psicólogo, ao psiquiatra, não porque confie acima de tudo na ciência, e sim porque, do contato com os outros seres mais humanos do que você se permite ser no momento, com a pequena complacência deles todos, você alimenta a disposição de defrontar ao menos um empecilho neste mundo: a sua doença.

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