segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ok, Freud, você venceu


Eu admito, eu admito: a psicanálise me explicou muita coisa. Um dos poucos senões que não entendo sou eu mesmo
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Ainda agorinha, sonhei que o Sigmund era um gângster do crime organizado em Viena. Para pagar toda a cocaína que devia aos chefes do PCC e do Comando Vermelho, topou ser soldado do tráfico por uns tempos no Brasil, mas em poucos meses conheceu o desemprego. Tanto no Rio, como em São Paulo.
Desesperado, Freud sobrevivia de pequenos assaltos.

Era madrugada, e eu apressava o passo numa rua deserta. De repente, um assaltante me aponta uma arma e grita: “Para aí, meu bom, perdeu, perdeu!” O assaltante era Freud.

Moral da história: mormente em seus sonhos, o fóbico social paga caro pelos seus fracassos.

Viver adverso

Sartre não perambula na vastidão do branco em minha mente quando estou em pânico. Neste momento, a repulsa que nutro pelo outro é uma experiência enojante. Eu me tensiono nervo por nervo. Eu adio o fôlego. Eu lamento muito. E encarcero o vômito.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Tô fu: tô fóbico

Chega um dia em que sua adolescência passa, mas a timidez permanece e piora. Você se vê ainda jovem, você se descobre homem, e daí? Sem força e coragem, a vida de ninguém avança. De repente, você hoje está pasmo na antessala da própria velhice. À espera, que lembra uma espreita. Agora, talvez sempre, o mundo o apavora. Como último recurso, você tenta ter consciência disso com certa graça. Mira-se no espelho, segura as lágrimas e pensa alto – tô fu: tô fóbico. Paralisado e perplexo, você raciocina rápido e com espanto: com o tempo, sem que você observasse, aquela antiga e conhecida timidez da juventude se tornou um pânico insensato, porém já bastante adulto. Mais vigoroso e violento que as crenças, os amores e as amizades que você gostaria de ter, ainda que fosse apenas um sonho. Na impossibilidade de ser transparente, você se volta para obscuridade e crê, qual o quê, que seja possível se emaranhar com escuridões e sombras. Lá de dentro do seu vazio estranho e tenebroso, a sensação demente brama que você é a pessoa mais sozinha da face da Terra. Em vez de tristeza, isso chega a ser um conforto. Talvez o único que você seja capaz de apreciar, se não recorrer à terapia e drogas lícitas e controladas. Dormir, por um segundo ou meses, não adianta. Fé, somente, não basta, e no seu caso nem existe. Contar apenas com sua força de vontade, se ainda houvesse em você alguma, não é o suficiente. Você se agarra ao médico, ao psicólogo, ao psiquiatra, não porque confie acima de tudo na ciência, e sim porque, do contato com os outros seres mais humanos do que você se permite ser no momento, com a pequena complacência deles todos, você alimenta a disposição de defrontar ao menos um empecilho neste mundo: a sua doença.


A família me achava um fofo. A sociedade, um fóbico. Venceu a maioria.


No alto de meus 50 anos, não vou me jogar lá de cima para fazer do fim da vida uma tragédia. Ao contrário, prefiro comédia e aprender a sorrir de mim mesmo. Se você quiser trocar ideias e aceitar que eu coloque um pingo de humor nessa conversa amarga, tudo bem. Já se você deseja mesmo é cortar os pulsos, não estou aqui pra isso.